Realizei o essencial de meu percurso profissional em meio hospitalar, psiquiátrico e de clínica geral, bem como em centros médicos psicopedagógicos (CMPP). Como estava determinado a dar testemunho por escrito de minha experiência, fui convidado a prestar uma habilitação para dirigir pesquisas e, no ano seguinte, fui nomeado professor. Preciso que, na França, o título de professor depende desta habilitação e não do doutorado, que só capacita a ser mestre, havendo uma diferença hierárquica entre professores e mestres. Meus trabalhos percorrem alguns grandes eixos: o principal, o da articulação dos processos psicológicos e psicopatológicos individuais, conjugais, familiares e socioculturais em sua dinâmica. Esse eixo tem como fonte minha experiência profissional, mas também minha tese de doutorado sobre a suposta paranóia de Schreber. Prossego atualmente através de um exame crítico das histórias da psicopatologia e através da abordagem de novas psicopatologias ligadas às novas sociabilidades, às novas formas da guerra e à sua disseminação, acompanhadas da multiplicidade de traumatismos que lhes são corolários. Neles, valorizo, ainda, o testemunho das psicopatologias individual e social. A partir desse eixo, finalizo um livro sobre a história dos casos clínicos, em que o estudo metódico e meticuloso desses casos, em sua dinâmica, pode servir de contra-argumento às teses de Freud, mas também às de Foucault ou Pigeaud. O segundo grande eixo é aquele da epistemologia clínica e da história das instituições, na medida em que têm uma influência importante na elaboração das teorias e das decisões que lhes são aferentes, quer na forma do estabelecimento de um diagnóstico, sempre sujeito a calção e situada em uma dinâmica, quer na forma da tomada de decisões políticas. Apresento este Curriculum em duas partes: a primeira contém meus títulos, conferências e atividades dos últimos anos, em ordem decrescente, desde minha nomeação como professor; a segunda parte retoma a ordem cronológica até tal nomeação. Por vezes, títulos assemelham-se: tento proceder como um músico que fizesse variações em torno de um mesmo tema. Isso obedece a um cuidado meu em internacionalizar as pesquisas, com o aporte de diferentes pontos de vista, publicando em língua inglesa, em língua francesa, na França ou no Canadá e, enfim, em língua portuguesa, acessível inclusive a leitores de língua espanhola. Por exemplo, os editores de língua inglesa conseguem admitir variações teóricas e considerações sobre a história da psicopatologia durante a apresentação de um caso de psicoterapia de uma criança conduzida em um CMPP ( Centro Médico Psicopedagógico), enquanto os editores franceses as recusam, exigindo, antes, concentração em um único foco, o da narrativa da conduta do tratamento.