In this PhD dissertation I try to present Utopia as a satire against certain Renaissance theologians and philosophers. The narrative indicates the mistake of some of More's contemporaries, represented by Raphael Hythlodeus, of interpreting Platonic works exclusively from a perspective reliant on medieval Aristotelian scholasticism. Based on this reading of Plato, Raphael advocates a philosophy independent from and superior to rhetoric, politics and ethics, analogous to the one advocated by the Neoplatonists of Florence such as Pico della Mirandola. For him, the philosopher does not need rhetorical devices to persuade, nor bother to get involved with the imperfections of others in politics, or aspire to become a better person. He is already a sage, and his alleged possession of the truth is enough for him. Thomas More, by contrast, discreetly presents "another philosophy" in which those disciplines are integrated symbiotically, and in which moral and intellectual perfection becomes the goal the philosopher must try to reach, paradoxically, not deluding himself with the idea that this will be accomplished. More's Humanistic philosophy is based, in short, on the sum of the propositions of four major influences on his intellectual life: Plato, Lucian of Samosata, Cicero and Erasmus. These two conceptions of philosophy, More's and Hytlodeus', one ostentatious and ambitious, the other modest and hidden, are opposed throughout the book
Nesta tese procuro apresentar A Utopia como uma sátira a certos teólogos e filósofos do Renascimento. A narrativa aponta o equívoco de alguns contemporâneos de More, representados por Rafael Hitlodeu, de interpretarem a obra platônica exclusivamente de uma perspectiva dependente da escolástica aristotélica medieval. A partir dessa leitura de Platão, Rafael defende uma filosofia independente e superior à retórica, à política e à moral, semelhante à defendida por neoplatônicos de Florença, como Pico della Mirandola. Para ele, o filósofo não precisa de artifícios retóricos para convencer, nem se dar ao trabalho de se envolver com as imperfeições alheias na política, ou almejar tornar-se melhor. Ele já é um sábio, e sua suposta posse da verdade lhe basta. Thomas More, de outro modo, apresenta discretamente uma outra filosofia na qual aquelas disciplinas se integram simbioticamente, e na qual a perfeição moral e intelectual se torna uma meta da qual o filósofo deve tentar se aproximar, paradoxalmente não se iludindo com a ideia de que a alcançará. A filosofia humanista de More se baseia, de maneira simplificada, na soma das propostas de quatro grandes influências em sua vida intelectual: Platão, Luciano de Samósata, Cícero e Erasmo. Essas duas concepções de filosofia, a de More e a de Hitlodeu, uma ostensiva e ambiciosa, e outra modesta e oculta, são contrapostas ao longo do livro