Essa tese é o resultado de um trabalho comparativo sobre as experiências brasileira e argentina recentes com governos de centro-esquerda e as possibilidades de realizar mudanças institucionais significativas. Tem como ponto de partida o revival de um discurso econômico pró-desenvolvimento, a partir de meados dos anos 2000, que retomou ideias político-econômicas vinculadas ao e engendradas pelo pensamento latino-americano pós-Segunda Guerra Mundial. As eleições de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil e de Néstor Kirchner na Argentina, em 2003, são consideradas simbólicas e de ruptura , pois representaram uma inflexão política (prática e discursiva) importante em relação aos programas de governo dominantes nos anos 1990. Ambos deram passos na direção de governos mais populares, que ampliaram o gasto público, estimularam o pleno emprego e promoveram políticas externas mais autônomas. Além disso, como se argumenta nesse trabalho, empreenderam uma tentativa de modificar o padrão de condução da política econômica, flexibilizando alguns instrumentos de política monetária. A tese é orientada por questões como: houve uma contrapartida efetiva a esse revival ideológico que tenha modificado a forma como a política econômica se organizou e foi praticada? É possível explicar a política econômica como um reflexo de lutas políticas mais amplas, ou dos interesses e posições de atores políticos, econômicos e sociais? Há relação significativa entre as coalizões de apoio aos governos de centro-esquerda e o câmbio estrutural? De que tipo? Quais os obstáculos que países de capitalismo periférico enfrentam para transformar seus perfis produtivos? Considerando como fundamental o papel das ideias na produção de políticas públicas, esse trabalho busca identificar os tipos de ideias econômicas e seus agentes difusores trabalhando com o conceito de regimes de conhecimento econômico e de comunidades epistêmicas em economia. Recorre também a uma literatura sobre pensamento político econômico, variedades do capitalismo, e mudança institucional para incorporar a ideia de coalizão de atores que pode ajudar a explicar por que determinados tipos de projetos políticos escolhidos por maioria popular via eleições, não logram êxito. O recorte cronológico escolhido é o da duração desses projetos políticos desenvolvimentistas, entre 2003 e 2014. Que corresponde ao ciclo de assunção, consolidação e queda dos três governos do Partido dos Trabalhadores no Brasil e do Kirchnerismo na Argentina. A tese propõe a utilização de um método de análise que leve em conta as relações entre Estado, mercado e sociedade de forma não estanque e sugere que um entendimento mais profundo sobre como se constituem os regimes de conhecimento econômico é uma boa ferramenta analítica para abrir a caixa preta das práticas de administração econômica e, finalmente, politizar a economia.
This work is the result of a comparative enterprise about latest Brazilian and Argentinian experiences central left governments and the chances to make meaningful institutional changes. Its departure point is the revival of a pro development economic discourse since 2000s, that recovered political economic ideas linked to and engendered by Post Second World War Latin American thought. Luiz Inácio Lula da Silva election in Brazil, and Néstor Kirchner in Argentina, both in 2003, are considered as symbolic and a breaking point because they represented an important political inflection (discursive and practical) towards governments agenda of 1990s. Both Lula and Kirchner governments put forward more popular agendas, expanding public budget, increasing full employment policies and promoting more autonomous international policies. Moreover, as this work argues, they undertook a very significant attempt to modify monetary policy patterns. This thesis is guided by questions as: Was there an effective counterpart to this ideological revival that has changed the way economic policy was organized and practiced? Is it possible to explain economic policies as a mirror image of broader political disputes, or of political, economic and social actors interests and positions? Is there any significant linkage between support coalitions to central left governments and the structural change? Of what kind? What are the obstacles peripheral capitalist countries face to alter their productive patterns? Considering as fundamental the role of ideas to public policies production, this work seeks to identify types of economic ideas and its diffusion agents dealing with economic knowledge regime and economic epistemic communities concepts. It resorts to a political economy thought, varieties of capitalism and institutional change literature to incorporate the notion of actors coalition to explain why some kind of political projects chosen by majority of constituency did not achieve success. The chronological cut, between 2003 and 2014, follows the ascension, consolidation and fall of the three Workers Party and Kirchnerist governments . This thesis aims to apply an analytical method that takes into account the state, market and society relations in a dynamic fashion, and suggests that a deeper understanding of how economic knowledge regimes works should be an useful analytical tool to open the economic political management black box, and, finally, politicize the economy.