Apoiado numa perspectiva teórico-metodológica cartográfica (BARROS; KASTRUP, 2015; DELEUZE; GUATTARI, 1945), este trabalho teve como objetivo analisar que concepções sobre ensino de língua estrangeira para crianças (LEC) se constroem nas coleções didáticas de espanhol Nuevo Recreo e Ventanita al Español, ambas da editora Santillana. Além disso, também se buscou verificar de que maneira as concepções de ensino de LEC observadas se relacionam com uma construção de imagens de criança / infância. A pesquisa foi dividida em duas etapas: num primeiro momento, realizamos a análise dos referidos manuais didáticos e mapeamos as vozes que enunciavam em tais materiais e de que maneira tais vozes contribuíam para a construção de imagens de criança. Para efetuarmos tal análise, apoiamo-nos no conceito de semântica global (MAINGUENEAU, 2008), especificamente no que tange ao estatuto do enunciador e do coenunciador; e propusemos um diálogo com a noção de “quarta parede”, advinda dos estudos relacionados às Artes Cênicas. Foram observados quatro estatutos de relação entre os coenunciadores: a. um hiperenunciador que enuncia para o coenunciador-aluno; b. um enunciador-personagem que enuncia para outro enunciador-personagem; c. um enunciador-personagem que enuncia para o coenunciador-aluno e d. um enunciador objeto / animal que enuncia para o coenunciador-aluno, por meio do gênero adivinha. Percebemos que nos estatutos “a” e “b”, a imagem discursiva de criança é construída a partir de uma posição passiva, como se esse fosse um mero executor de tarefas, ou como um observador, que não interage com o material em questão. Nos estatutos “c” e “d”, essa imagem discursiva de criança se desloca, pois o aluno é convocado a interagir, a tomar a palavra e também a (co)enunciar. Posteriormente, empreendemos a segunda etapa da pesquisa, que consistiu na análise dos enunciados produzidos pelos sujeitos-criança participantes da Oficina de Espanhol para crianças do CAp-UERJ. Com tais crianças, conversamos a respeito dos livros didáticos que havíamos analisado na primeira etapa (Nuevo Recreo e Ventanita al Español). Os enunciados produzidos nessa conversa serviram como segundo corpus de análise, que foram analisados a partir do modo como esses sujeitos-criança se posicionavam ao opinar, ora usando mecanismos linguísticos de modalidade epistêmica, ora de modalidade deôntica (CORACINI, 1991; LYONS, 1977; FOUCAULT, 2008). Concluímos que, ao longo dos livros didáticos, constrói-se uma concepção de ensino de língua estrangeira para crianças que tende a apresentar propostas didáticas pedagógicas com pouca ou nenhuma complexidade, focada no ensino de vocabulário de maneira descontextualizada, com uso de textos artificiais e sua consequente ausência de textos que efetivamente tenham tido uma circulação sociohistórica. Nas falas das crianças com quem conversamos, elabora-se um rechaço a essa infantilização da infância e há uma reivindicação de um ensino de LEC ancorado num diálogo interdisciplinar e com uma finalidade comunicativa efetiva