As it has been claimed that a new dialogue between the human sciences and the biosciences is taking course, we propose to follow here a double movement, of what appears to be a symmetrical movement of dissolution, by both sides, of the dichotomies between nature and nurture, the biological and the social. Thus, on the one hand, we present this movement from the viewpoint of the humanities, that of Anthropology more specifically, through the unfolding of the concept of local biologies, coined by Margaret Lock in the early 1990s; on the other hand, by presenting the field of epigenetics as a representative of a new possible style of thought emerging from the life sciences. We proceed through a literature review on the idea of local biologies and on discussions with regard to epigenetics, in order to observe how the biological materiality of the human body is configured in both perspectives. Thus, we will look at how both approaches might develop a view about its contingency, in contrast to a universal, uniform or a priori feature ascribed to the biology of the human body that has helped to isolate the latter from its material and social environments. We will summarize this contextualization of biology noting the temporal dimension that permeates it, questioning the limits of a biological inheritance that, despite having served in a first moment to help establish boundaries around the body's foundations, now appears to indicate its permeability.
Partindo da alegação de que está em curso um novo diálogo entre ciências humanas e ciências biológicas, propõe-se acompanhar um duplo movimento. Um suposto movimento simétrico de dissolução das dicotomias entre natureza e cultura, biológico e social, realizado por ambos os lados da fronteira. Assim, apresenta-se esse movimento, de um lado, a partir das ciências humanas, mais especificamente a partir da Antropologia, com o delineamento do conceito de biologias locais, proposto por Margaret Lock no início da década de 1990; do outro, a partir do campo da epigenética, como representante de possível novo estilo de pensamento nas ciências biológicas. Através de uma revisão da literatura relacionada à ideia de biologias locais e às discussões sobre epigenética, propõe-se observar como a materialidade biológica do corpo é situada por ambos os enfoques. A proposta, portanto, é apresentar como o biológico é contextualizado por ambas as perspectivas, e como se elabora a visão acerca de sua contingência, em contraste a um caráter quase universal, uniforme ou a priori sobre a biologia do corpo humano, que ajuda a isolá-lo de seu ambiente material e social. Realiza-se essa síntese sobre a contextualização da biologia com um olhar ao caráter temporal que a atravessa, marcado por questionamentos sobre os limites de uma hereditariedade biológica que, se primeiro ajudou a isolar os fundamentos biológicos dos corpos, agora parece indicar sua permeabilidade.