O presente estudo tem por objetivo analisar o lugar ocupado pelo silêncio na narrativa de pessoas que sofreram violência homofóbica e que são acompanhadas pelos dispositivos públicos de atenção e cuidado a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais implantados no estado do Rio de Janeiro. Utiliza-se neste trabalho o conceito de homofobia como violência motivada pelo preconceito sexual, que se origina do processo histórico que produziu a separação entre homo e heterossexualidade e estabeleceu a última como norma. O trabalho de campo realizado em dois Centros de Referência e num dispositivo público de saúde incluiu entrevistas semiestruturadas com 11 usuários e 25 profissionais, no período de junho a novembro de 2011. A análise do material indica que o silêncio constitui-se como um discurso legítimo sobre a dor, servindo de proteção para a manutenção de determinadas relações, preenchendo, portanto, um espaço de fala. Reconhecer o lugar do silêncio, mesmo em dispositivos que se propõe a acolher denúncias de violência, pode facilitar o fortalecimento do encontro entre profissionais e usuários dos serviços voltados para pessoas LGBT.
The aim of this investigation is to analyze the role of silence in narratives built by people who suffered homophobic violence. The concept of homophobia is understood here as concerning to any kind of violence (physical our psychological) motivated by social prejudice based on gender and/or sexual orientation. Homophobic violence is thus seen as a consequence of the historical process which distinguished homosexuality from heterosexuality and established the latter as "normal' and "natural". The research was carried out in three public services located in the state of Rio the Janeiro (Brazil): two anti homophobic violence centers, and one health clinic for transsexuals placed in an university hospital. From June to November 2011, 11 semi-structured interviews were conducted with "users" of those services, and 25 with different professionals working there (lawyers, physicians, psychologists etc). The analysis indicates that silence has an important role in protecting or maintaining relevant social relationships, and should be accepted by professionals dealing with this kind of violence as a legitimate discourse about physical and moral pain.