A atividade realizada pelas doulas passou a ser reconhecida, a partir 2013, como uma ocupação na área da saúde destinada a prestar suporte contínuo à mulher gestante no ciclo gravídico-puerperal. Para isso, as pessoas interessadas em se tornar doulas passam por um processo de capacitação que tem como objetivo informar e instrumentalizar essas profissionais nos assuntos relativos à gestação, parto e puerpério. No decorrer dos últimos anos, observa-se que muito do que está sendo alcançado em termos de valorização do parto natural humanizado sofre a influência dos esforços das doulas; elas estão atuando em diversas frentes e desenvolvendo as mais diferentes estratégias para legitimar essa modalidade de parto. Desta forma, em um cenário onde a cesariana é a via de nascimento mais frequente, as doulas, aparentemente, buscam desnaturalizar práticas obstétricas consideradas ultrapassadas e suas ações normativas, visando oferecer à população mecanismos de reflexividade sobre como se posicionar diante de uma instituição de assistência obstétrica. Este trabalho tem como objetivo compreender o processo de formação de doulas, caracterizada como uma categoria profissional emergente, que atua na assistência ao parto, e que vem demonstrando ter um expressivo peso político dentro do movimento pela humanização do parto no Brasil. Para tanto, este estudo foi realizado em duas etapas. Na primeira, foi feito um mapeamento de diversos cursos de capacitação de doulas no Brasil e entrevistas com cinco coordenadoras de cursos. Na segunda etapa da pesquisa, foi realizado uma observação participante em um curso de capacitação de doulas e entrevistas com cinco alunas que participaram deste curso. A partir da etnografia deste processo de formação, buscou-se descrever e analisar as categorias presentes nas narrativas e as dinâmicas de interação em tal prática de ensino, bem como refletir sobre os pressupostos conceituais e valorativos que estão subjacentes a uma concepção natural de parto/nascimento em um projeto político-pedagógico, cujas práticas ainda são pouco mapeadas no Brasil.
The activity of doulas was recognized, in 2013, as an occupation on the Health Area, intended to "provide continuous support to women in the pregnancy-puerperal cycle". To perform as a doula, individual undergoes training, whose purpose is to inform and instrument her/him about the issues related to gestation, childbirth and the puerperium. It has been recognized that much of the achievement in terms of the nowadays humanized birth s valorization is due to the efforts of the doulas. In a scenario, where the c-section is the most frequent way of birth, they seek to denature obstetric practices considered outdated in order to offer the population mechanisms of reflexivity on how to stand oneself in front of an obstetrical care institution. This work aims to understand the process of doulas qualification. Doulas are characterized as an emerging professional category, but has been demonstrating a significant political weight within the movement for the humanization of assistance to the childbirth. For that, this study was carried out in two stages. In the first one, a mapping of several doulas training courses in Brazil and interviews with five course coordinators were done. In the second stage of the research, a participant observation was made in a doulas training course and interviews were carried out with five students who participated in this course. Through an ethnography of the process of the doulas qualification, we will try to describe and analyze the categories presented in the narratives and dynamics of interaction in such a process. We also seek to reflect on the conceptual and evaluative assumptions that underlie a "natural" birth in a political-pedagogical project whose practices are still poorly mapped in Brazil.