Durante os anos 1920 e 1930 a imprensa carioca se debruçou sobre os crimes cometidos por Febrônio Índio do Brasil (1895-1984), um indivíduo natural de São Miguel de Jequitinhonha (MG) e que havia chegado ao Rio de Janeiro quando contava cerca de 14 anos de idade. A literatura a seu respeito informa que abandonou o lar devido aos maus tratos infligidos por seu pai, reconhecido como alguém violento e que frequentemente agredia aos membros de sua família. Ao passar pela Praça Tiradentes e se envolver em um jogo de azar, Febrônio esgotou seus recursos financeiros e, este evento, marcou o início de sua passagem composta por crimes de diversas ordens. No decorrer de sua passagem pela então capital da República, Febrônio roubou, cometeu assassinatos, exerceu ilegalmente algumas profissões, como as de médico e dentista, além de outras infrações. Sendo reincidente nos crimes que cometeu, atraiu a atenção dos noticiários daquele período (1919 1939), despertando também o interesse de médicos e juristas, preocupados em compreender as razões que levam alguém a cometer crimes contra a ordem social vigente. Foram investigados três jornais: Correio da Manhã, A Noite e O Paiz. O acesso a estes periódicos foi possível através da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (http://memoria.bn.br/). Inicialmente realizou-se uma busca minuciosa em todos os números destes jornais entre os anos citados. Após identificar as matérias, foram transcritos os principais trechos preservando a linguagem ali presente. Levantou-se uma série de informações importantes à compreensão do caso: detenções, crimes, vítimas, a posição das autoridades com relação a Febrônio. Os jornais contemplaram os depoimentos das vítimas, das testemunhas e outras pessoas que, ao descreverem os crimes, salientaram a cor de seu executor. Na manchete de O Paiz do dia 14 de Setembro de 1927, por exemplo, uma das vítimas enfatizou que Febrônio era um mulato . Tal postura foi sinalizada por Peter Fry (1941 -), antropólogo inglês e comentador deste caso, quando relatou que as testemunhas e vítimas depunham como se trouxessem uma lição memorizada. Isto permite visualizar como a sociedade do século passado percebia os indivíduos mestiços, apontando o preconceito racial como presente há muito tempo e reforçado pela imprensa, que também serviu ao debate científico daquele período, por meio da veiculação do laudo de Febrônio, elaborado pelo psiquiatra Carrilho e a divulgação dos pareceres de outros especialistas, como os psiquiatras Juliano Moreira, Adauto Botelho e Mauricio Urstein. Será abordado como a imprensa carioca noticiou o caso Febrônio por meio do debate médico-psiquiátrico instaurado no Brasil durante o início do século XX e, posteriormente, como as pessoas estiveram se referindo a Febrônio durante entrevistas mediadas pela imprensa e no decorrer dos interrogatórios policiais
During the 1920 s and the 1930 s, Rio de Janeiro s press tackled the crimes committed by Febrônio Índio do Brasil (1895-1984), a man born in São Miguel de Jequitinhonha (Minas Gerais) who arrived in Rio de Janeiro at around 14 years old. Literature about him informs that he left home due to abuse perpetrated by his father, known as someone violent who frequently assaulted his family members. After getting involved with gambling while passing through Tiradentes Square, Febronio extinguished his financial resources, which set the beginning of his passage, composed of several crimes. During his passage through the Republic s capital then, Febrônio stole, commited murders, illegaly performed some professions such as doctor and dentist amongst other infractions. Being a repeat offender, he caught the attention of the news of that time (1919 1939), also catching the eye of doctors and lawyers, worried about comprehending the reasons that bring someone to commit crimes against the current social order. Three newspapers were investigated: Correio da Manhã; A Noite; and O Paiz. The access to those newspapers was possible through the digital library of the National Library (http://memoria.bn.br/). Initially, a thorough search on all editions of those newspapers was made, among the aforementioned years. After identifying the articles, the main passages were transcribed, preserving the language present there. A series of informations relevant to the comprehension of the case were brought up: detentions, crimes, victims, authorities positioning regarding Febrônio. The newspapers contemplated the victims , the witnesses and other people s testimonies, who, as they described the crimes, highlighted the author s skin color. In O Paiz September 14th, 1927 s headline, for example, one of the victims emphasized that Febrônio was a mulatto . Such posture was signaled by Peter Fry (1941-), British anthropologist and commentator of the case, when he reported that the witnesses and victims testified as if they brought a memorized lesson. This allows us to visualize how last century s society perceived the mixed race individuals, pointing to the racial prejudice as present for a long time and reinforced by the press, which also served to the scientific debate of that time, through the dissemination of Febronio s report, elaborated by the psychiatrist Carrilho and the divulging of other specialist s opinions, such as the psychiatrists Juliano Moreira, Adauto Botelho and Mauricio Urstein. It will be tackled how Rio de Janeiro s press announced the Febrônio case through the medic-psychiatric debate set in Brasil during the beginning of the 20th century and, after that, how people referred to Febrônio during interview mediated by the press and during police questioning