Por uma penitenciária de portas abertas: produção, circulação e recepção do discurso humanizador de Victório Caneppa na revista A Estrêla (1951-1955)
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A presente tese, utilizando como objeto/fonte de pesquisa a revista A Estrêla: Órgão da Penitenciária Central do Distrito Federal, iniciativa do Capitão Victório Caneppa, busca refletir sobre os discursos nela veiculados que trazem à tona as práticas de uma unidade prisional, de um gestor, e das políticas formuladas para o sistema penitenciário brasileiro na primeira metade da década de 1950. Sendo assim, pretendo revelar nuances, por meio da revista estudada, dessa Penitenciária que pretendia romper grades, se tornar visível ao mundo extramuros, e se inserir em uma proposta de cárcere humanizado. Para tanto, situo a presente pesquisa no entrecruzamento da História das Prisões, História da Cultura Escrita e História da Educação. Por outro lado, reflito acerca das vicissitudes do encarceramento na década de 1950, percebendo a escrita como uma prática cultural, uma forma de veicular ideias, um suporte para a memória e um sistema de representações que possuem especificidades. As páginas do periódico conduzem a olhar para o período em questão a partir de seus sujeitos, privados ou não de liberdade, seus eventos, seus embates, suas práticas e políticas. Sendo Victório Caneppa o editor e idealizador da revista aqui estudada, interpreto os usos do impresso feitos por esse sujeito e como este trazia uma representação de si e da penitenciária que dirigia, buscando legitimar- se. O gestor divulgava no periódico seus feitos, viagens e fazia circular os temas em voga no momento, tornando-se um interlocutor privilegiado a partir de suas experiências no país e no exterior, o que permitia avaliar, comparar e prescrever políticas para as prisões brasileiras. Nesse sentido, interpretar as ideias e modelos veiculados em A Estrêla revela parte de em um período histórico pouco estudado em âmbito acadêmico e que ajuda a refletir acerca da recorrente busca pela humanização da pena, das dificuldades e poucos avanços conquistados no âmbito da reforma que o regime prisional brasileiro exige