O presente trabalho se interessa pela realidade da assistência à saúde da mulher no puerpério, principalmente pelas demandas que emergem das vivências relativas à subjetividade feminina que podem ficar alteradas com a chegada de um filho. Ao considerar a integralidade da assistência como princípio básico do Sistema Único de Saúde (SUS), constatamos a necessidade de realizar estudos acerca da temática. Esse trabalho tem por objetivo analisar como os trabalhadores da Estratégia de Saúde da Família (ESF) percebem o sofrimento psíquico de mulheres no puerpério e de que forma desenvolvem seu processo de trabalho junto às puérperas. Pesquisa qualitativa, do tipo exploratória-descritiva. Os aspectos éticos foram respeitados e a coleta de dados iniciou após a aprovação da pesquisa no comitê de ética sob parecer nº 2.305.035/2017. O período de coleta foi de out./2017-fev./2018, sendo utilizadas como técnicas a entrevista semiestruturada e a observação participante, com 20 profissionais de ESF de um município do sul de Santa Catarina/Brasil. Os depoimentos foram analisados à luz da Análise Temática de Conteúdo em pré-análise, com exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação. Os resultados apresentam a caracterização geral dos participantes e as seguintes categorias temáticas: Compreensão de sofrimento psíquico pelos membros da equipe de saúde da família; A integralidade da atenção à saúde da mulher no puerpério é incipiente e realizada por alguns membros da equipe de saúde da família; A integralidade da atenção à saúde da mulher no puerpério não ocorre no processo de trabalho da equipe de saúde da família. Os resultados expressam que a saúde psíquica da mulher no puerpério não é parte integrante do processo de trabalho das equipes. Embora reconheçam que o sofrimento psicológico é multifatorial e relacionado a aspectos intra e interpsíquicos, o modelo biomédico ainda é soberano. Nessa perspectiva, o sofrimento psíquico só é visto caso os profissionais constatem uma patologia instalada que justifique o sofrimento vivido pela puérpera; assim, diante da doença, passa a ser motivo de preocupação e encaminhamentos. O que prevalece é uma atenção fragmentada, aliada ao despreparo das equipes, com movimentos de gestão do cuidado que incentivam um modelo biologicista e protocolar, direcionado pelo foco de atenção especificado pelo Ministério da Saúde para esse tema, ou seja, que visa ao controle e monitoramento do pré-natal e acompanhamento do recém-nascido, limitando a atenção à mulher no puerpério aos aspectos relativos à sobrevivência do bebê, por exemplo, a questão da amamentação, sem foco na saúde da mulher de modo integral, em especial aos aspectos psicológicos. Portanto, o estudo revela a invisibilidade do sofrimento psíquico de puérperas atendidas por equipes de ESF. Diante dos achados, como produto da presente investigação, organizamos uma Mostra com obras de artes e relatos dos participantes, os quais retratam e problematizam a percepção dos profissionais sobre o sofrimento psíquico de mulheres no puerpério, as quais visitarão de forma itinerante as ESF do município, a fim de que esse tema seja foco de diálogo e reflexões nas ações de educação permanente em saúde que ocorrem em reuniões de equipe e na comunidade.