A presente pesquisa propõe-se a investigar a possibilidade de uma experiência formativa emancipatória, por meio do contato com as obras dos artistas visuais Lais Myrrha e Eduardo Berliner. Para tanto, o estudo problematiza a forma como a arte se relaciona com outros dispositivos imagéticos na cultura contemporânea, assim como o ideal de formação humana e sua possível efetividade ainda hoje. Nesse percurso, emerge o impasse que enfrentam a arte e a educação: quando a dimensão instrumental da razão alia-se a uma lógica econômica espoliadora que visa transformar tudo em meio para produzir riquezas, aquelas atividades que existem por si mesmas, ou que não servem imediatamente a esse propósito, tendem a ser desprezadas ou controladas de tal forma que restem completamente neutralizadas enquanto experiências desviantes. Todavia, ao vislumbrarmos os excessos dessa racionalidade restritiva, percebemos que a mesma cultura que despreza a arte é aquela que sustenta a sua importância: ao relacionar-se de maneira crítica e negativa com a realidade ela é capaz de reconfigurar a forma como percebemos e agimos e, com isso, criar outras possibilidades de existência no mundo. Essa dimensão dissensual é imprescindível para pensarmos uma educação política que se comprometa com a tarefa emancipatória, razão pela qual a experiência estética com a arte inaugura a possibilidade de um processo verdadeiramente formativo. O exercício de análise das obras de Lais Myrrha e Eduardo Berliner visa demonstrar como os artistas articulam as imagens e restauram seu potencial crítico, e, sobretudo, como a apropriação criativa da memória e da história pode propor questões relevantes para pensarmos criticamente o presente.